terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Mulheres de Jaíba dão exemplo no cultivo de hortaliça orgânica (sem produto químico)

DONA Marcolina de 82 anos
Um grupo de mulheres de Jaíba se esforça para manter em plena atividade o cultivo de alimentos em suas hortas sem o uso de inseticida químico. Os produtos são comercializados na feira livre e abastece supermercados e sacolões. As hortas funcionam em área própria das guerreiras ao lado do parque de exposições.
Trata-se de um trabalho incentivado pela Emater com um grupo de 13 mulheres que vem chamando atenção na região. As conquistas das produtoras foram desde a melhora na produção e renda, até na qualidade de vida delas e familiares, que aprenderam a trabalhar coletivamente e a ter acesso a bens como bicicletas, motos e carros. Tudo isso, graças ao trabalho em uma área de três hectares onde são produzidos cerca de 20 tipos de hortaliças comercializadas em estabelecimentos da cidade, entre restaurantes, lanchonetes, açougues, feira livre e varejo.

Premiação para técnicos da Emater através das “mulheres da horta”
O trabalho da Emater com o grupo, conhecido como “as mulheres da horta”, começou há nove anos. Ele foi o vencedor estadual do “Destaque MelhorAção” de 2015, um concurso promovido pela empresa para reconhecer as melhores iniciativas desenvolvidas pelos seus funcionários. O envolvimento dos técnicos com as agricultoras surgiu quando algumas delas, que cultivavam hortaliças há anos, na beira do rio Verde Grande, procuraram o escritório da empresa. “O grupo vinha constantemente recebendo notificações e multas da polícia ambiental, por ser um local impróprio para o cultivo das hortaliças”, conta a extensionista da Emater de Jaíba Mônica Rodrigues.
Segundo a técnica, surgiu nessa época a ideia de adquirir um terreno onde as mulheres pudessem cultivar, sem agredir o meio ambiente, ou seja, de forma sustentável. A Emater informa que depois de saírem das margens do rio, as mulheres conseguiram uma área. Um fazendeiro cedeu um terreno e a prefeitura deu acesso à água para ser usada na irrigação e o trabalho foi Iniciado com hortaliças sem agrotóxicos.
De acordo a Emater, o início das hortas orgânicas foi complicado. “Os dois primeiros meses foram bem difíceis”, relembra o extensionista agropecuário. Segundo ele, foram utilizadas caldas de extratos de plantas para afastar as pragas das hortaliças. Com o passar do tempo, as mulheres conseguiram comprar o terreno que era apenas cedido e mais dois hectares das terras do mesmo proprietário, para a ampliação do projeto. De lá pra cá, com o suporte da empresa mineira de extensão rural, as horticultoras tiveram acesso a linhas de crédito do Pronaf e outros programas de políticas públicas, como o Programa de Combate à Pobreza Rural; Luz para Todos; Minas Sem Fome; Cultivar, Nutrir e Educar e outros.
O MelhorAção é uma iniciativa da Emater-MG, que tem por objetivo destacar e valorizar o funcionário que atua em projetos, boas práticas ou ações de melhoria nas atividades. Os trabalhos precisam ter resultados significativos na rotina da unidade de trabalho ou para o cliente da empresa. Os vencedores estaduais classificados no 1º, 2º e 3º lugares de 2015 serão contemplados com uma viagem para conhecer as experiências de sucesso em Ater (Assistência Técnica e Extensão Rural), em outro estado da federação.

Mulheres da horta formam associação
As agricultoras também se organizaram na Associação das Produtoras de Hortaliças Orgânicas de Jaíba. Cada uma delas vende 80 molhos de folhas por dia a R$ 2,50 a unidade. Aos sábados, na feira, comercializam de 400 a 500 molhos, o que mensalmente dá em torno de 3.500 molhos de hortaliças e uma retirada média de R$ 5 mil por mês, para cada uma das mulheres, segundo a extensionista agropecuária Mônica Rodrigues.
Dona Marcolina dos Santos, 82 anos, remanescente das primeiras mulheres que cultivavam nas margens do rio Verde Grande e primeira presidente da associação das produtoras não esconde a satisfação com a atividade que sustenta toda a família. “Desde que a gente saiu do rio, as mudanças foram muitas, mas graças a Deus está tudo dando certo. Hoje sonho ver a área cercada, mas até agora não deu”, pondera. Dona Marcolina mora com doze familiares. Todos vivem da renda gerada pela horta. Alguns, como um neto e um filho, ajudam nos cuidados diários das plantações e na comercialização.
Outra história de vida bastante peculiar no grupo das mulheres da horta é da produtora Ana Gomes. Ela trocou a profissão de salgadeira pela horticultura e conseguiu melhorar a situação financeira. Inicialmente tentou conciliar as atividades. Posteriormente passou a se dedicar exclusivamente ao cultivo da horta. “Agora dá pra eu manter a minha casa toda, meu marido, meus filhos e ainda sobra uma reserva pra eu guardar. Comprei uma moto, financiei um carro. Hoje tiro um bom salário. Foi muito bom  ter vindo pra cá”, garante.

Sonhos e autonomia
A agrônoma Mônica Dias explica que o objetivo agora é conseguir realizar mais alguns sonhos das agricultoras, como construir uma sede para a associação, cercar toda a área cultivada e conseguir barracas padronizadas para expor as hortaliças que já são vendidas na feira livre de Jaíba. “O nosso trabalho é constante e contínuo com as mulheres”. A gente trabalha a parte social e agronômica, mas o objetivo é fazê-las caminhar com as próprias pernas. E temos visto resultados concretos na vida delas.
A agricultura Maria Pereira Rodrigues também se sente realizada com a atividade. Ela afirma que o local de trabalho é como se fosse a própria casa e que até a saúde melhorou. “Até no domingo eu venho”, garante, completando que o clima seco prejudicou a horta e por isso os filhos a aconselharam a desistir do projeto. “Mas eu insisti e foi muito bom, pois as chuvas vieram e as couves e cebolinhas já estão brotando”. Segundo dona Maria, seu maior sonho é construir uma casa no mesmo terreno. “Eu tenho um sonho que é construir uma casa aqui dentro, pra não ficar indo e voltando da cidade. Ter a minha casa lá pra ir quando eu quiser e ter uma aqui pra eu morar”, diz.

A atual presidente da associação Joana Mendes também afirma não ter do que reclamar.  Ela, que gosta de enumerar as conquistas do grupo, pensa também em  um futuro projeto. “Tenho o sonho de ter uma sede pra atender melhor os clientes, pois hoje isso ainda é individual”, explica. Demonstrando gratidão pelo reconhecimento da Emater. Aos técnicos envolvidos no atendimento às mulheres da horta, Joana faz questão de elogiar o corpo técnico: “o pessoal da empresa é muito presente, dá uma força imensa. A gente fica feliz”.