DONA Marcolina
de 82 anos
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Um grupo de
mulheres de Jaíba se esforça para manter em plena atividade o cultivo de
alimentos em suas hortas sem o uso de inseticida químico. Os produtos são comercializados
na feira livre e abastece supermercados e sacolões. As hortas funcionam em área
própria das guerreiras ao lado do parque de exposições.
Trata-se de um
trabalho incentivado pela Emater com um grupo de 13 mulheres que vem chamando
atenção na região. As conquistas das produtoras foram desde a melhora na
produção e renda, até na qualidade de vida delas e familiares, que aprenderam a
trabalhar coletivamente e a ter acesso a bens como bicicletas, motos e carros.
Tudo isso, graças ao trabalho em uma área de três hectares onde são produzidos cerca
de 20 tipos de hortaliças comercializadas em estabelecimentos da cidade, entre
restaurantes, lanchonetes, açougues, feira livre e varejo.
Premiação para técnicos da Emater através das “mulheres
da horta”
O trabalho da
Emater com o grupo, conhecido como “as mulheres da horta”, começou há nove
anos. Ele foi o vencedor estadual do “Destaque MelhorAção” de 2015, um concurso
promovido pela empresa para reconhecer as melhores iniciativas desenvolvidas
pelos seus funcionários. O envolvimento dos técnicos com as agricultoras surgiu
quando algumas delas, que cultivavam hortaliças há anos, na beira do rio Verde
Grande, procuraram o escritório da empresa. “O grupo vinha constantemente
recebendo notificações e multas da polícia ambiental, por ser um local
impróprio para o cultivo das hortaliças”, conta a extensionista da Emater de
Jaíba Mônica Rodrigues.
Segundo a
técnica, surgiu nessa época a ideia de adquirir um terreno onde as mulheres
pudessem cultivar, sem agredir o meio ambiente, ou seja, de forma sustentável. A
Emater informa que depois de saírem das margens do rio, as mulheres conseguiram
uma área. Um fazendeiro cedeu um terreno e a prefeitura deu acesso à água para
ser usada na irrigação e o trabalho foi Iniciado com hortaliças sem agrotóxicos.
De acordo a
Emater, o início das hortas orgânicas foi complicado. “Os dois primeiros meses
foram bem difíceis”, relembra o extensionista agropecuário. Segundo ele, foram
utilizadas caldas de extratos de plantas para afastar as pragas das hortaliças.
Com o passar do tempo, as mulheres conseguiram comprar o terreno que era apenas
cedido e mais dois hectares das terras do mesmo proprietário, para a ampliação
do projeto. De lá pra cá, com o suporte da empresa mineira de extensão rural,
as horticultoras tiveram acesso a linhas de crédito do Pronaf e outros
programas de políticas públicas, como o Programa de Combate à Pobreza Rural;
Luz para Todos; Minas Sem Fome; Cultivar, Nutrir e Educar e outros.
O MelhorAção é
uma iniciativa da Emater-MG, que tem por objetivo destacar e valorizar o
funcionário que atua em projetos, boas práticas ou ações de melhoria nas
atividades. Os trabalhos precisam ter resultados significativos na rotina da
unidade de trabalho ou para o cliente da empresa. Os vencedores estaduais
classificados no 1º, 2º e 3º lugares de 2015 serão contemplados com uma viagem
para conhecer as experiências de sucesso em Ater (Assistência Técnica e
Extensão Rural), em outro estado da federação.
Mulheres da horta formam associação
As
agricultoras também se organizaram na Associação das Produtoras de Hortaliças
Orgânicas de Jaíba. Cada uma delas vende 80 molhos de folhas por dia a R$ 2,50
a unidade. Aos sábados, na feira, comercializam de 400 a 500 molhos, o que
mensalmente dá em torno de 3.500 molhos de hortaliças e uma retirada média de
R$ 5 mil por mês, para cada uma das mulheres, segundo a extensionista
agropecuária Mônica Rodrigues.
Dona Marcolina
dos Santos, 82 anos, remanescente das primeiras mulheres que cultivavam nas margens
do rio Verde Grande e primeira presidente da associação das produtoras não
esconde a satisfação com a atividade que sustenta toda a família. “Desde que a
gente saiu do rio, as mudanças foram muitas, mas graças a Deus está tudo dando
certo. Hoje sonho ver a área cercada, mas até agora não deu”, pondera. Dona
Marcolina mora com doze familiares. Todos vivem da renda gerada pela horta.
Alguns, como um neto e um filho, ajudam nos cuidados diários das plantações e
na comercialização.
Outra história
de vida bastante peculiar no grupo das mulheres da horta é da produtora Ana
Gomes. Ela trocou a profissão de salgadeira pela horticultura e conseguiu
melhorar a situação financeira. Inicialmente tentou conciliar as atividades.
Posteriormente passou a se dedicar exclusivamente ao cultivo da horta. “Agora
dá pra eu manter a minha casa toda, meu marido, meus filhos e ainda sobra uma
reserva pra eu guardar. Comprei uma moto, financiei um carro. Hoje tiro um bom
salário. Foi muito bom ter vindo pra
cá”, garante.
Sonhos e autonomia
A agrônoma Mônica
Dias explica que o objetivo agora é conseguir realizar mais alguns sonhos das
agricultoras, como construir uma sede para a associação, cercar toda a área
cultivada e conseguir barracas padronizadas para expor as hortaliças que já são
vendidas na feira livre de Jaíba. “O nosso trabalho é constante e contínuo com
as mulheres”. A gente trabalha a parte social e agronômica, mas o objetivo é
fazê-las caminhar com as próprias pernas. E temos visto resultados concretos na
vida delas.
A agricultura
Maria Pereira Rodrigues também se sente realizada com a atividade. Ela afirma
que o local de trabalho é como se fosse a própria casa e que até a saúde
melhorou. “Até no domingo eu venho”, garante, completando que o clima seco
prejudicou a horta e por isso os filhos a aconselharam a desistir do projeto.
“Mas eu insisti e foi muito bom, pois as chuvas vieram e as couves e cebolinhas
já estão brotando”. Segundo dona Maria, seu maior sonho é construir uma casa no
mesmo terreno. “Eu tenho um sonho que é construir uma casa aqui dentro, pra não
ficar indo e voltando da cidade. Ter a minha casa lá pra ir quando eu quiser e
ter uma aqui pra eu morar”, diz.
A atual
presidente da associação Joana Mendes também afirma não ter do que
reclamar. Ela, que gosta de enumerar as
conquistas do grupo, pensa também em um
futuro projeto. “Tenho o sonho de ter uma sede pra atender melhor os clientes,
pois hoje isso ainda é individual”, explica. Demonstrando gratidão pelo
reconhecimento da Emater. Aos técnicos envolvidos no atendimento às mulheres da
horta, Joana faz questão de elogiar o corpo técnico: “o pessoal da empresa é
muito presente, dá uma força imensa. A gente fica feliz”.