Aprendendo a domar um
jeep
Antigamente. Há muito tempo mesmo. Quando não havia os
carrões de hoje, velhos tempos de outrora; era um luxo pra quem possuía um
jeep, ou jipe, pra quem preferir. Era um carro para poucos, somente fazendeiros
e ricaços daquela época gozavam do conforto deste automóvel; sendo hoje raros,
se tornando peças de museus, ou então, totalmente montado especialmente para
playboy. O Pedro Marques recebera uma herança do seu pai Juscelino. Na época
eram 100 mil contos, para dividir com seu irmão gêmeo Paulo Marques, que também
abocanhou essa tal herança e juntos compraram este carro envenenado, o jeep.
Como aprender dirigir esse automóvel? O Pedro e o Paulo mal sabiam guiar um
cavalo e uma charrete. Disse o Pedro ao irmão: - Temos que criar uma forma
segura para que possamos aprender conduz ir essa máquina mortífera, se não
vamos atropelar pedestres ou cair em ribanceiras e aí adeus. Aquele jeep estava
novinho em folha, ainda mais que o mesmo era constantemente lavado e
lubrificado com brilhantina em toda sua lataria, brilhava mais do que cabeça de
careca em noite de lua cheia. Como é triste ver a comida e não poder comer!
Sentir o cheiro e nem ao menos lamber! Saber que tem e não poder usufruir. É
como morrer de fome e sede em pleno deserto com o bolso cheio de ouro. O
cientista vivia angustiado e lamentava - Eu sou um autodidata, formado nas mais
variadas execuções pronominais e adverbiais já pronunciadas neste planeta; no
entanto, tenho um carrão, mas não sei dirigir. Em matéria de volante sou um
burro. Meu irmão Paulo é outro trouxa, não sabe nem o que é uma buzina! Foi aí
que ele teve uma brilhante idéia. Ele mandou comprar quatro tambores de 200 litros para servir
de plataforma, fazendo com que o jeep ficasse no ar com as quatros rodas
livres, totalmente suspensas. E agora? Como é que nós vamos colocar esse carro
em cima destes tambores? Indaga Pedro ao seu irmão. Já sei! Vamos chamar os
quinze ajudantes mais fortes da região. Então vieram os sansões para expor
aquele carro na condição desejada. Dois tambores serviram de pilastras nas
imediações do motor do carro, os outros dois sustentaram toda a parte traseira,
de forma que as quatro rodas ficaram plenamente suspensas, podendo girar como
se estivessem em plena estrada, e na direção desejada. Com muita força os
quinze assessores conseguiram colocar aquele jeep no alvo desejado pelos irmãos
gêmeos (cada um mais sabido que o outro). Começava ali a primeira auto escola
da região de Coronel Murta, Rubelita e Salinas. Pedro Marques começa então a
treinar. Todo dia de manhã, mal tomava um cafezinho adoçado com rapadura
iniciava com aulas e mais aulas práticas. Ele funcionava o motor e engatava a
primeira, segunda, e terceira marcha, com as rodas girando em pleno ar.
Acelerava simulando uma viagem, assim como astronautas praticam em simuladores
de vôos da Nasa. Pedro mandava seu irmão Paulo atravessar pela frente do
automóvel como se fosse pedestre e ele dizia apertando a buzina: - Sai da
frente desgraça! Sai espírito de porco! Carro mata sapo, misera! Dizia Ele que
era se preparando como fosse à estrada. Também fizeram a simulação da troca de
um pneu furado, tendo o seu irmão Paulo feito o papel de macaco. Assim foram
dias e mais dias. Certa vez com o carro ligado e com as rodas girando a 80km/h,
Pedro diz para seu irmão: Ô Paulo vê se as rodas estão girando pra frente ou
pra trás? Seu irmão leva a mão direita em uma das rodas para conferir e têm de
forma instantânea os cinco dedos dilacerados pela velocidade. Sangue pra todo
lado. Espera aí, Paulo, tem a tal da ré! Com a ré engatada ele acelera fazendo
as rodas girar ao contrário. Obviamente ele diz ao irmão - Ô Paulo! Vamos
queimar agora na ré! Pra que lado está girando essas periculosas rodas cheias
de vertiginosidade? Seu irmão desta feita leva a mão esquerda sobre um dos
pneus para ver para qual lado a roda girava. - Ai que dor! Mais cinco dedos
foram dilacerados! Pedro se tornou uma roda-dura depois de cinco anos de
treino, neste período atropelou vacas, cavalos, bezerros e outros, inclusive a
sogra. O que era um jeep lindo se tornara uma lata velha toda esbagaçada! Seu
irmão não aprendeu a dirigir, pois, perdera todos os dedos...