quinta-feira, 19 de março de 2015

LOROTAS DE PEDRO MARQUES (Por Brás da Viola)

JULÃO PÉ DE REMO

Era o ano de 1.979. A cidade de Jaíba sofria uma das maiores cheias de todos os tempos, muitas famílias ficaram sem suas moradas que foram construídas à beira do rio, e uma destas moradas era do Sr. Pedro Marques que morava próximo ao Verde Grande, onde exercia a profissão de dentista prático.  Eu, (Brás da Viola), minha mãe, juntamente com o restante da família ficamos alojados no antigo hotel da Ruralminas, esperando as águas de janeiro baixar. Pedro Marques cientificamente arquitetou um plano para continuar atender os clientes no seu gabinete odontológico. Ele alugou uma canoa bem grande e com parafusos e pregos, montou um consultório odontológico náutico e ambulante, tendo como cobertura uma lona preta. Assim o profeta Pedro ia atendendo seus clientes ribeirinhos por toda extensão do rio caudaloso e piscoso entre barrancas e portos. Com um megafone ele gritava: - Alô fregueses do dentista popular, aqui estou para arrancar seus periclitantes dentes enraivados e tenebrosos, óh banguelas venha ao meu consultório ambulante fazer suas ferraduras bucais cujo nome cientifico é dentadura. Lembrando que dentadura é como chifre, dói mas acostuma. Entretanto, a canoa-consultório era acionada para mover através de um remador, um senhor que era conhecido pelo apelido de “Julão pé de remo”, pai do nosso amigo Betim do Veredas, que é  vendedor de salgados em um gol azul pelas ruas de Jaiba. Além de barrigudo e bundudo, uma cópia do chupa-cabras. O interessante, é que o julão pé de remo não usava remos, ele remava com a perna direita dentro d’água com seu pizante de remo, estilo pé de pato. Para se ter uma ideia do tamanho do pé, ele calçava número 54 com a frente do pé mais parecendo a cabeça de um surubim de 80 kilos, o que se tornava o ato de remar flexível e aderente as águas, funcionando perfeitamente de forma natural sem precisar de motor. Assim, Pedro Marques percorria todo o rio com esse parceiro remador atendendo seus clientes em plena cheia. Certo dia, o inusitado remador sentiu uma dor de dente e rogou ao seu patrão Pedro Marques que o aliviasse daquele sofrimento, senão, seria obrigado a parar o serviço. O cientista Pedro Marques olhou para sua caixa de ferramentas e notou que só tinha meia ampola de anestesia, o que não era suficiente para anestesiar aquele intolerante dente maquiavélico. Mandou que comprasse dois litros de “fubuia” ( pinga de segunda, que também se conhece como arranca-bofe). Pedro Marques mandou que Julão pé de remo remasse para o meio do rio e deixasse o barco ambulatório à deriva, sendo assim poderia atender o seu remador. Lá vai o barco à deriva e o remador sentado na cadeira sendo anestesiado e ao mesmo tempo embriagado com a pinga fubuia, para que este por sua vez não sentisse dor. Começou a anestesia com uma dose de pinga, duas doses de pinga, cinco doses de pinga até quando Julão degustou todo litro, ficando assim, totalmente bêbado e anestesiado. Lembra lá atrás quando eu falei do Betim do Veredas? Pois é, ele era criancinha  de seis pra sete anos, sedo muito apegado ao pai, ficava o tempo todo no barco ao lado do papai, pois, era muito apegado. Pedro Marques com uma turquesa gigante, tipo aquela que a Cemig usa pra cortar fios começou a extrair o dente do seu remador, mas, o impacto foi além das fronteiras faciais e ósseas, tendo dilacerado o maxilar da vitima, arrancando de forma desumana a queixada do Julão, vindo junto  daquela arcada dentaria cerca de oito dentes e só um que doía, somente este que era para extrair. Betim do veredas ficava chorando ao lado: - não, - não, - não, - vai matar papai...= sai pai esse homem vai te matar, gritava por sua mãe bem alto, ô mamãe o dentista tá matando papai. Era sangue por toda a canoa, seu Julão gritou cuspindo n’água.  - Pedro é só um. Respondeu Pedro Marques, isso mesmo só falta um, numa lapada só arranquei oito. Sangue era o que Deus dava em abundância, consequentemente,  aquele sangue atraiu piranhas que iam pulando para dentro da embarcação, dentre tantas a menor chegou pesar 20 kilos. Isso somente a fotografia, imagina o peixe. O que se sabe é que ao todo aquilo se tornou a maior pescaria de todos os tempos. Ao chegarem à barranca todo o peixe chegou ao peso de quatro mil kilos. Só se via as cabecinhas de Pedro marques e do Senhor Julão pé de remo, com os corpos cobertos de piranhas. E então muitos perguntaram: - Cadê o menino que estava com o pai no barco, o Betim do Veredas? Tragédia!!! Sucuri engoliu, mas essa é outra lorota que depois iremos contar. Até breve...