JULÃO PÉ DE REMO
Era o ano de 1.979. A
cidade de Jaíba sofria uma das maiores cheias de todos os tempos, muitas
famílias ficaram sem suas moradas que foram construídas à beira do rio, e uma
destas moradas era do Sr. Pedro Marques que morava próximo ao Verde Grande,
onde exercia a profissão de dentista prático.
Eu, (Brás da Viola), minha mãe, juntamente com o restante da família
ficamos alojados no antigo hotel da Ruralminas, esperando as águas de janeiro
baixar. Pedro Marques cientificamente arquitetou um plano para continuar
atender os clientes no seu gabinete odontológico. Ele alugou uma canoa bem
grande e com parafusos e pregos, montou um consultório odontológico náutico e
ambulante, tendo como cobertura uma lona preta. Assim o profeta Pedro ia
atendendo seus clientes ribeirinhos por toda extensão do rio caudaloso e
piscoso entre barrancas e portos. Com um megafone ele gritava: - Alô fregueses
do dentista popular, aqui estou para arrancar seus periclitantes dentes
enraivados e tenebrosos, óh banguelas venha ao meu consultório ambulante fazer
suas ferraduras bucais cujo nome cientifico é dentadura. Lembrando que
dentadura é como chifre, dói mas acostuma. Entretanto, a canoa-consultório era
acionada para mover através de um remador, um senhor que era conhecido pelo
apelido de “Julão pé de remo”, pai do nosso amigo Betim do Veredas, que é vendedor de salgados em um gol azul pelas
ruas de Jaiba. Além de barrigudo e bundudo, uma cópia do chupa-cabras. O
interessante, é que o julão pé de remo não usava remos, ele remava com a perna
direita dentro d’água com seu pizante de remo, estilo pé de pato. Para se ter
uma ideia do tamanho do pé, ele calçava número 54 com a frente do pé mais
parecendo a cabeça de um surubim de 80 kilos, o que se tornava o ato de remar
flexível e aderente as águas, funcionando perfeitamente de forma natural sem
precisar de motor. Assim, Pedro Marques percorria todo o rio com esse parceiro
remador atendendo seus clientes em plena cheia. Certo dia, o inusitado remador
sentiu uma dor de dente e rogou ao seu patrão Pedro Marques que o aliviasse
daquele sofrimento, senão, seria obrigado a parar o serviço. O cientista Pedro
Marques olhou para sua caixa de ferramentas e notou que só tinha meia ampola de
anestesia, o que não era suficiente para anestesiar aquele intolerante dente
maquiavélico. Mandou que comprasse dois litros de “fubuia” ( pinga de segunda,
que também se conhece como arranca-bofe). Pedro Marques mandou que Julão pé de
remo remasse para o meio do rio e deixasse o barco ambulatório à deriva, sendo
assim poderia atender o seu remador. Lá vai o barco à deriva e o remador
sentado na cadeira sendo anestesiado e ao mesmo tempo embriagado com a pinga fubuia,
para que este por sua vez não sentisse dor. Começou a anestesia com uma dose de
pinga, duas doses de pinga, cinco doses de pinga até quando Julão degustou todo
litro, ficando assim, totalmente bêbado e anestesiado. Lembra lá atrás quando
eu falei do Betim do Veredas? Pois é, ele era criancinha de seis pra sete anos, sedo muito apegado ao
pai, ficava o tempo todo no barco ao lado do papai, pois, era muito apegado.
Pedro Marques com uma turquesa gigante, tipo aquela que a Cemig usa pra cortar
fios começou a extrair o dente do seu remador, mas, o impacto foi além das
fronteiras faciais e ósseas, tendo dilacerado o maxilar da vitima, arrancando
de forma desumana a queixada do Julão, vindo junto daquela arcada dentaria cerca de oito dentes
e só um que doía, somente este que era para extrair. Betim do veredas ficava
chorando ao lado: - não, - não, - não, - vai matar papai...= sai pai esse homem
vai te matar, gritava por sua mãe bem alto, ô mamãe o dentista tá matando
papai. Era sangue por toda a canoa, seu Julão gritou cuspindo n’água. - Pedro é só um. Respondeu Pedro Marques,
isso mesmo só falta um, numa lapada só arranquei oito. Sangue era o que Deus
dava em abundância, consequentemente,
aquele sangue atraiu piranhas que iam pulando para dentro da embarcação,
dentre tantas a menor chegou pesar 20 kilos. Isso somente a fotografia, imagina
o peixe. O que se sabe é que ao todo aquilo se tornou a maior pescaria de todos
os tempos. Ao chegarem à barranca todo o peixe chegou ao peso de quatro mil
kilos. Só se via as cabecinhas de Pedro marques e do Senhor Julão pé de remo,
com os corpos cobertos de piranhas. E então muitos perguntaram: - Cadê o menino
que estava com o pai no barco, o Betim do Veredas? Tragédia!!! Sucuri engoliu,
mas essa é outra lorota que depois iremos contar. Até breve...