200 dentes por dia
As proezas do Pedro Marques causam curiosidades para muitas pessoas, inclusive profissionais como odontólogos, médicos, farmacêuticos, enfermeiros, e outros. Uma vez o Pedro recebe a visita de dois dentistas e três médicos que vieram por aqui somente para conhecê-lo. Isso aconteceu há um bom tempo, quando até então ele exercia a profissão de dentista prático. Os visitantes eram de Belo Horizonte, nossa capital mineira. Chegando em Jaíba logo indagaram onde o tal do Pedro dentista morava, receberam a informação que o mesmo residia numa casa à beira do rio Verde, que possuía umas placas dizendo: “JEOVÁ ESTÁ NESTA CASA”. Chegaram e se apresentaram como clientes, sendo que dois alegaram sentirem dor de dente e outros três queriam a confecção de dentaduras para alguns parentes. Na verdade eles agiam como agentes secretos e estavam investigando seu trabalho de dentista prático. Como que atuava, e se esse trabalho era de responsabilidade profissional. Não sei detalhar com riqueza essa parte, mas acho que estavam fazendo esse trabalho para o Conselho Regional de Odontologia. Perguntaram-lhe - O Senhor tem diploma? - Sim... Estudei por autodidaxia, eu sou o autodidata dos autodidatas! - Como assim? - Meu diploma é a boca do povo que sempre foi e eternamente será a minha escola, a minha faculdade. São as bocas escancaradas e cheias de dentes deteriorados. - Quantos dentes o senhor extrai por dia? - Eu não tenho tempo para contá-los, esclarecendo que não sou contador, não entendo de orçamento, mas acho que uns duzentos vão pra fossa todo santo dia. - Isso é exagerado, não acha? - Exagerado é o sofrimento dos coitados, exagerado é uma música do Cazuza, afinal eles chegam até o autodidata e eu os alivio. A minha cidade logo vai ter a fama que merece, o meu boticão funciona para este povo sofrido. Vocês vão ver escritos por todos os lugares, em jornais, em revistas e até em pára-choques de caminhões a mais linda e majestosa frase: “JAÍBA A CIDADE DOS BANGUELAS”. Um destes visitantes diz a Pedro Marques que é delegado da polícia federal e que o mesmo estava preso, por exercício ilegal da profissão. Neste exato momento o Pedro reage e diz com um boticão na mão: - Venha... Eu morro, mas não me entrego, eu lhe “arranco” todos os dentes da sua boca, você vai morrer de hemorragia crônica, estou pronto para levar um companheiro comigo, venha desgraça. Claro, foi uma brincadeira por parte daquele visitante. Continuaram com a bateria de perguntas, tais como: - dê-nos uma explicação, por que o dentista extrai tantos dentes? Parece que o cidadão tem o raciocino fraco... Seu Q.I. é pequeno, então. Pedro o indaga. - O que faz o médico? Cuida de doentes responde a visita... O que faz o advogado? Defende causas. - Então, se eu sou dentista e tenho mesmo é que “arrancar” dentes, seu incompetente! Você já viu médico e advogado extrair dentes? Exclama o autodidata. Perguntaram-lhe: - A gente nota que o autodidata usa dentadura, então responda-nos... - Quem extraiu seus dentes? - Foram as minhas próprias benditas mãos. (respondeu). Como assim cientista? - Para que serve o espelho? De frente ao espelho eu mesmo anestesiava e ao mesmo tempo “arrancava”, confesso pra vocês que doía, mas eu dizia pra mim mesmo - agüenta autodidata, nem que geme de dor, é mais um banguela na praça da cidade. Mas, como eu não sou trouxa fiz um par de dentaduras e estou usando. Só assim saí da lista dos banguelas! Os visitantes questionam – cientista, o senhor extrai praticamente todos os dentes das pessoas, o senhor acha isso correto? Errado é não extrair, senão como que vou sobreviver? Sem banguela não tem dentadura, não tendo dentadura eu morro de fome! Aqueles visitantes despediram do Pedro e foram embora encabulados com tanta maestria do cientista autodidata Pedro Marques de Oliveira.